Quanto tempo preciso para questionar qual valor atribuído a quem tem o poder do não possuir?
Eis que minhas roupas, que não dizem nada, respondem em voz nítida e clara:
Se tiveres pelo menos cinco centavos
Existe um país de todos em que todos não têm um país. A palavra nacionalidade nos parece ter um certo tom de abstrato e espera-se que por detrás de uma esquina qualquer nos sejam revelados os porcos e infelizes heróis de uma geração falida. Por que não medíocre.
Onde quem tem valor é quem sempre se dá de bem sobre o outro. O outro, este que sempre espera uma palavra amiga, um elogio ou um obrigado pelo que de nada fez. Mais pobre, em espírito aceita a condição da qual lhe fora atribuído, seu descaso, sua esperança. O precioso tempo, isso me lembra algo?! Está correndo contra nossa vontade e a oportunidade cedida, talvez em livros doados pelo governo que tirara minha valiosa contribuição em impostos e a quem vejo possuí-lo jogando-o ao chão e sorrindo para o “outro”, que nada diz ao temer algo pior, em chutes, sorrisos, páginas pelo piso e dor ao vê-lo cuspir/ vomitar sua imprudente satisfação.
“Morte a todos os mestres!” Dizia alguém com um copo pequeno, de estrutura simples, incolor, distorcido pelo reflexo de quem o segurava do outro lado, onde ate o meio se via seu conteúdo, liquido amareleço cujo odor insuportável cortava meu dom apurado de velhas taças de água mineral. No rotulo do mesmo havia um pequeno nome, não me vem à memória, mas mesmo assim é impossível pra eu esquecer a suposta frase de efeito do sujeito. O motivo, havia recebido seu boletim com notas vermelhas. Vermelhas como sangue, sangue esse que o desejava ter de seu mestre, seu professor, em suas mãos.
Logo se aproximara de mais alguns, que por sua vez chamara mais dois que estavam furtando na fila dos idosos e que de alguma maneira mantinham contacto visual com outro grupo de mesma índole a uns poucos metros dali. Em poucos instantes eram muitos e o que se dizia o líder exclamava palavras de ordem:
— Viva a revolução dos revolucionados revoluto revolvidos da sala 04 na escola passo porque tenho dinheiro!!!!!
E a multidão fora à loucura. Chamavam um pelo outro pelas marcas de seus tênis, era nítido quanto tinham e quanto sabiam. Os homens de bem que estavam observando atentamente das filas enormes de suas conduções se entre olhavam com um ar de quem diz que em minha casa eu tenho um exemplar desses jovens, comprei em uma liquidação na beira de uma estrada federal. E ao chegar o que esperavam, sumiam rapidamente.
Aos que passavam por mim e perguntavam apenas por curiosidade que produto era aquele em que vendia , lhes cedia a oportunidade de tocar-lhes as pétalas e sentir seus aromas. Mas, o folclore sempre contribuía e se mostrava mais intenso quando sabido o valor da mercadoria, os diversos fregueses que nunca possuí sempre retrucavam e de alguma maneira me davam as costas para disfarçar suas aflições ao não poder ter o que eu as oferecera em troca de um valor tão singelo, as flores em que eu vendia não eram de plástico e nem de cobre, sempre foram bastante valiosas. No começo de minha carreira, minha profissão, sempre pedia em troca que cantassem o hino nacional, ou um nome de alguém que fizera parte da academia de letras. Hoje já não se e mais possível cobrar tudo isso. Certa vez quase fui preso por apenas cobrar um abraço por cada tulipa. Não sei se é por causa de meu oficio, ou se as pessoas estão tão acostumadas a dizer que tudo esta caro, não tenho dinheiro ou algo assim. No mas, o valor a que dei ainda me deixa ressentimentos.
— As flores são de graça!